Especialista defende sinergia entre universidades e parques tecnológicos

Brasília, 10 de fevereiro de 2025.


Em um contexto onde a inovação tecnológica avança rapidamente, a interação entre universidades e parques tecnológicos desponta como uma estratégia essencial para impulsionar a pesquisa aplicada e o desenvolvimento de novas soluções. Segundo Carlos Itsuo Yamamoto, professor titular do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR), essa conexão ainda enfrenta barreiras no Brasil, mas apresenta um potencial transformador para a engenharia e a indústria nacional.
 

Carlos Itsuo Yamamoto


Com uma carreira sólida, Carlos Itsuo Yamamoto possui graduação, mestrado e doutorado em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo (USP), além de uma especialização em Gestão da Qualidade pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com vasta experiência em reatores químicos, ele também é uma das vozes ativas sobre a necessidade de aproximar a academia das demandas práticas da sociedade.

Durante a entrevista ao site do Confea, ele destacou que a maioria das pesquisas nas universidades brasileiras ainda é muito teórica, com pouca aplicação prática imediata. No entanto, o cenário começa a mudar com a introdução de conceitos como o TRL (Technology Readiness Level), também conhecida como Nível de Maturidade Tecnológica, exigido por editais como os da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Esse avanço, aliado à colaboração com os parques tecnológicos, pode fomentar a criação de startups e a aplicação de tecnologias inovadoras em diferentes setores. Confira a entrevista:

Confea:  Como a universidade enxerga o papel dos parques tecnológicos?
Carlos Itsuo Yamamoto: A universidade vê os parques tecnológicos como algo muito interessante. Ela enxerga a tecnologia sendo desenvolvida, mas, para a maioria dos pesquisadores, os parques ainda são algo um pouco distante. A pesquisa dentro da universidade ainda é muito acadêmica, explorando conceitos na fronteira do conhecimento, mas que não têm, na maioria das vezes, uma aplicação prática imediata. Claro que existem exceções, mas eu diria que cerca de 70% das pesquisas ainda são bastante acadêmicas. 

Recentemente, a academia começou a se preocupar mais com a qualificação da pesquisa, principalmente com a introdução do conceito de TRL (Technology Readiness Level), que tem sido exigido nos editais da Finep. Isso incentiva a busca por um maior grau de maturidade tecnológica para participar desses editais.

Confea: De que forma os parques tecnológicos podem colaborar com as universidades de engenharia?
Carlos Itsuo Yamamoto: A forma mais imediata seria estimular a entrada de pesquisadores da universidade nos parques para aprenderem ou desenvolverem metodologias que coloquem a tecnologia a serviço da sociedade. Isso aumentaria o TRL das atividades e poderia gerar parcerias com a indústria. Um bom caminho seria oferecer estágios para os alunos, principalmente com as novas exigências curriculares de interação com a sociedade. Esse contato entre alunos e o ambiente de desenvolvimento tecnológico poderia inspirar muitos deles a terem uma visão mais prática, ajudando a transformar a engenharia no Brasil. Existe uma crítica à academia de que ela oferece muita teoria e pouca prática, e essa interação com os parques pode preencher essa lacuna.

“ A maioria das pesquisas nas universidades brasileiras ainda é teórica, mas a interação com os parques tecnológicos pode mudar esse cenário."


Confea: Falando sobre as novas tendências tecnológicas, como a inteligência artificial, como você enxerga a interação entre os parques tecnológicos e a academia nesse sentido?
Carlos Itsuo Yamamoto: A inteligência artificial é um tema que está em alta, e a academia também o trata, mas de forma teórica, devido à falta de infraestrutura adequada, como laboratórios e capacidade computacional. Existem exceções, claro, mas, em média, o parque computacional das universidades é antigo e não tem potência suficiente para pesquisas mais avançadas em IA. Quem trabalha com isso geralmente está em laboratórios que conseguiram projetos e recursos específicos. A interação com parques tecnológicos ajudaria muito, criando um ambiente em que mais alunos e engenheiros formados trabalhem na fronteira do conhecimento aplicado.

Confea: Como os parques tecnológicos estão incentivando a criação de startups?
Carlos Itsuo Yamamoto:  A criação de startups é uma das funções dos parques tecnológicos. Eles oferecem um ambiente propício para que pequenas empresas, muitas vezes formadas por grupos de alunos, se especializem e cresçam. As startups que ancoram em um parque tecnológico têm acesso a um ambiente com alta densidade tecnológica, o que facilita o desenvolvimento de novas tecnologias. No entanto, a interação da academia com essas startups acaba sendo limitada. A academia ajuda no início, mas, à medida que a empresa se estabelece, a ligação com a universidade vai ficando mais fraca, porque a prioridade passa a ser a sobrevivência e o crescimento da empresa.

Confea: Quais são os principais desafios para o desenvolvimento de parques tecnológicos no Brasil?
Carlos Itsuo Yamamoto:  Um dos grandes desafios é geográfico. No Brasil, não temos parques tecnológicos nas principais capitais ou cidades com universidades de maior potencial. E muitos parques são criados sem um entendimento claro do que fazer. O ideal é ter empresas âncoras que invistam em um tema específico e demonstrem competência, mas isso nem sempre acontece. Além disso, a burocracia para aquisição de bens e insumos pela universidade torna difícil a gestão de um parque, já que processos como licitações são demorados e inviabilizam a agilidade necessária para a pesquisa.

Confea: Para finalizar, qual a sua visão sobre o futuro da interação entre universidades e parques tecnológicos no Brasil?
Carlos Itsuo Yamamoto:  Eu acredito que, se essa interação for bem estimulada, o Brasil pode crescer muito nas próximas décadas. O país precisa de mais engenharia e de gerar tecnologia própria, para não depender de tecnologia estrangeira. Os brasileiros são muito criativos, especialmente por causa das dificuldades que enfrentam para conseguir recursos. Essa sinergia entre universidades e parques tecnológicos pode ser extremamente benéfica para o desenvolvimento do país.

Saiba mais
De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a plataforma Inovalink — fruto de uma parceria entre o MCTI, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) — agrega uma vasta base de dados sobre incubadoras, aceleradoras de negócios e empresas de inovação no Brasil. 

Atualmente, o país conta com 64 parques tecnológicos em operação, dos quais 82% estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Esse fato pode ser atribuído às condições econômicas mais favoráveis dessas regiões e à presença de um sólido sistema científico e tecnológico, que, conforme a literatura especializada, é o principal fator de sucesso para parques tecnológicos. Além disso, há 42 parques em estágio de implantação e outros 7 em fase de planejamento.
 

Fonte: Inovalink


Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea